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SOLILÓQUIOS COM SHANKAR
Te lembras, Shankar, quando me perguntavas onde
Andava eu que parecia estar co'a cabeça nas
nuvens
Nas nuvens, me surpreendias, quando eu escutava
A pergunta já no meio da frase __nas nuvens
O quê, Shankar, e tu pacientemente repetias
Onde está tua cabeça, nas nuvens
Yeah ,Shankar, nas nuvens eu repetia, concordando
(havia uma pausa como se eu devesse uma explicaçāo)
Entāo, entāo o quê, ah!, se soubesses
Nāo que necessite teu aprovar, mas vou tentar
Repetir todos meus sentimentos do dia
Aqueles que me trouxeram exatamente a este olhar
E a súbita desconecçāo com a realidade
Difícil de explicar, Shankar, talvez já os tenha tido
Sāo memórias recentes que passam na frente
Dos meus olhos, imagens quase vivas, Shankar
Que de tāo reais chegam a formar uma fonte
De onde jorra esta energia, Shankar, que é pura
Pura nāo sei de quê energia mas que se torna
Impossível de ser tolerada além de poucos segundos
Avassaladora fôrça de uma felicidade absoluta
Algo tāo perto da experiência dum Paraíso
Que minha capacidade de compreensāo
E a fisiologia do meu coraçāo jamais poderiam
Suportar por mais do que esses preciosos segundos, Shankar
Uma implosāo interna, talvez, e a explosāo da mente
Que pena se ainda nāo as tivesses tido
Te confesso que estes momentos de que te falo
Nāo veem muito frequentemente, mas quando se mostram
Há uma precursora aura de mudança em tudo
O que me cerca e o medo, Shankar, é que eu nāo sobreviva
A estes indescritíveis átimos de pura inalduterada felicidade
É isso, Shankar, cabeça nas nuvens porque
Ela é levantada até lá por pura felicidade
Pura inadulterada felicidade, Shankar
E, na próxima vez em que eu nāo responder tua pergunta
Pega minha māo pois posso estar
Deixando este mundo prá sempre, muito embora tenha sido
Este meu mundo aquele o que trouxe junto às nuvens
Impossível de explicar, amigo, tenha paciência...
Mas, se porventura, isto te acontecer um dia
Eu saberei e, se precisares ,terás a minha māo.
Paulo Corrêa Meyer