Espera
Num dia de azul e
vento, desses que fazem setembros,
nem sei mais há
quantos anos,
envolto em poncho de
sonhos, partiste, buscando o teu justo.
Coragem é também
quietude no olho do furacão.
Preciso ir, tu
falaste.
Se mais tua boca não
disse, teu jeito fez o pedido,
e na meia água da
casa, no galpão de estrela e zinco,
perdida de tua
presença, olhando a curva da estrada,
pensando em ti, sigo a lida.
O tempo que tudo
apaga nunca mexeu na saudade.
Pergunto a todos que
cruzam se não viram o teu semblante,
e como se fosse uma
cuia
morna ,
de mão em mão,
o acaso, cheio de
baldas ,
vai me alcançando
teus traços.
Sei que caminhas
descalço, sem teu poncho de vermelho.
Farrapo, te chamam
agora, na intenção de ofender.
Mal sabem eles,
vaidade é só penacho de pena.
Do quero – quero, a
vontade,se mostra mesmo é no grito.
A vida, velha carreta
pesada de devaneios,
há de trazer-te algum
dia.
Vivo ou morto, não
importa,
vais encontrar teu
cachorro esperando na porteira.
Perdoa se entretida
na lida que me deixaste,
assim, de primeira
feita,
eu nem te ponha
reparo.
É que embaixo do
vestido,
no coração que
levaste,
eu te carrego bem
vivo, igual
não
tivesses ido.
Ana Mariano
Imagem:browndresswithwhitedots