Foto: browndresswithwhitedots
DESSACRADORES
São palavras que eu junto
Porque me apiedo delas
Cada qual nas páginas do dicionário
Deitadas como um defunto
Com lápide à direita a explicar
Sua razão de ser, a sua coerência
Sozinhas umas, outras enterradas
Perto de parentes próximos a relembrar
Raizes comuns, gostos adquiridos
Também a declaração do sexo
Da estrangeira procedência e talvez
Morte das mortes o total desuso
A sua hierarquia, sua patente
Nesse poderoso exército que jaz cadente
Ao olhar de quem seja a ele indiferente
Mas há também a glória de um exemplo
De verso ou prosa que realce o senso
A compreensão que trazem a um momento
Os dessacradores desses túmulos
As revivem ao lhes organizarem
Em brigadas ligeiras, em invencíveis
Armadas, em coleções passageiras
Em armas de fogo, em espelhos de gozo
Em destemidas guerrilheiras, em versos de amor
Há algo de mágico nesse cemitério
Quando as almas dessas aparições se levantam
A dançar as danças do cotidiano
Ao uma vez mais se encontrarem como amigos
Por longos anos passados não reunidos
Mas de novo a comemorar os seus sentidos
Quando o escritor com o seu crivo
As reunem felizes numa quadrilha
E de novo as deitam contentes
E então coerentes nas páginas
De um novo livro.
Paulo Corrêa Meyer
Um comentário:
Uma das poesias mais bonitas de meu irmão!
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