UMA RUA
A rua em que eu morava
era cheia de amigos e
a cidade acolhia gentilezas.
Não havia asfalto, nem calombos ou crateras –
só pedra irregular e alguma areia.
Não tinha ônibus,
fumaça ou ruído estranho,
só mãe proclamando o jantar.
A rua em que eu morava
era destino e não caminho.
Os vizinhos se falavam; e se ouvia
o cheiro das cozinhas.
A rua em que eu morava
nos concedia terreno baldio
e calçada em chão batido. Tinha gude e futebol,
moleque fugindo com brinquedo
e bola perdida na velhinha que passava.
Borboletas se exibiam – entomologia infantil -
iridescentes, entre alfinete e cortiça pousadas.
Ecologia era um futuro incerto.
A rua em que eu morava
ainda guarda a casa que foi minha.
Não mais a reconheço -
onde estão meus pais, aonde foram os amigos?
A rua em que eu morava
está no mesmo lugar e não existe mais.
D. O. d'Avila
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