quarta-feira, 24 de outubro de 2018

QUINTA DE POESIA





ESPELHO E FOTOGRAFIA
                        
Olho-me no espelho e vejo as rugas, que por marcas
a vida me legou. Ali sobre a estante
a foto antiga – um riso confiante, o olhar distante
dos que a experiência não tocou.

O corpo é rijo, a postura articulada, face iluminada,
vestido com apuro. Ainda não sabe
que fumar é venenoso e o sexo inseguro. De poesia
sabe pouco, ou quase nada.

Seu futuro é um alvo remoto. Falta-lhe a seta,
o arco está em construção. Para a imagem no espelho
o futuro já é presente, mas ela colhe ainda
algum desejo e ilusão.

Ou isso é apenas um pretexto do poeta...

Por um momento penso dizer a ele quanto custaria
transpor o abismo que hoje nos separa.
Que do retrato à imagem fluiu vida - lágrimas, riso
e alguma escara. Que da existência já nada exijo.  

Mas trocaria espelho por fotografia...



D.O. d’Avila




Imagem: tearingthepages



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