INACABADO
Dentro de mim, em líquida penumbra,
move-se um poema.
Imperfeito e tosco, agudo de inquietudes.
Feito de histórias que não contei,
do que esqueci de viver.
Emerge sem pressa, derradeiro assombro.
Traz mortos nas entrelinhas
e, nas varandas, samambaias.
Tem gosto de amor perdido,
ossos,
que fazem parte de mim.
Nem bem o sinto e já o perco,
no anseio do meu lápis.
Filho bastardo,
sem outra herança que ausência e busca,
há de ficar assim,
inacabado...
Ana Mariano
Olhos de Cadela