quinta-feira, 14 de julho de 2011

QUINTA DE POESIA


ADOLESCENTE 

Eu - uma adolescente? 
Se ela subitamente parasse aqui, agora, diante de mim, 
deveria eu tratá-la como próxima e querida, 
ainda que me seja estranha e distante? 

Verter uma lágrima, beijar sua testa 
pela simples razão 
de compartirmos a data de nascimento? 

Tantas diferenças entre nós 
que apenas os ossos talvez sejam os mesmos: 
a abóboda craniana, as órbitas. 

Já que os olhos parecem bem maiores, 
as pestanas são mais longas, ela é mais alta, 
e o corpo todo é cingido 
em suave, imaculada pele. 

Parentes e amigos ainda nos unem, é verdade, 
mas em seu mundo quase todos estão vivos, 
e no meu quase ninguém sobrevive 
daquele círculo que compartilhamos. 

Diferimos tão profundamente, 
falamos e pensamos sobre coisas totalmente diversas. 
Ela sabe quase nada – 
mas com uma tenacidade a merecer as melhores causas. 
Eu sei muito mais – 
mas com poucas certezas. 

Ela me mostra poemas, 
escritos de forma clara e meticulosa 
como já não faço há anos. 

Leio os poemas, releio-os. 
Bem, talvez aquele 
se fosse mais curto 
e corrigido em alguns pontos. 
O resto nada promete. 

A conversa tropeça. 
Em sua patética vigília 
o tempo ainda é banal e flexível. 
Na minha é muito mais precioso e rígido. 

Nada ao partirmos, um sorriso fixo 
e nenhuma emoção. 

Somente quando desaparece, 
abandonando o cachecol em sua pressa. 

Um cachecol de pura lã, 
com listras coloridas 
tricotado para ela por nossa mãe. 

Eu ainda o guardo. 

                Wyslawa Szymborska

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