quinta-feira, 31 de março de 2016

QUINTA DE POESIA






Espera

Num dia de azul e vento, desses que fazem setembros,
nem sei mais há quantos anos,
envolto em poncho de sonhos, partiste, buscando o teu justo.

Coragem é também quietude no olho do furacão. 
Preciso ir, tu falaste. 
Se mais tua boca não disse, teu jeito fez o pedido,
e na meia água da casa, no galpão de estrela e zinco,
perdida de tua presença, olhando a curva da estrada,
pensando em ti, sigo a lida.

O tempo que tudo apaga nunca mexeu na saudade.
Pergunto a todos que cruzam se não viram o teu semblante,
e como se fosse uma cuia
morna ,
de mão em mão, 
o acaso, cheio de baldas ,
vai me alcançando teus traços.

Sei que caminhas descalço, sem teu poncho de vermelho.
Farrapo, te chamam agora, na intenção de ofender.
Mal sabem eles, vaidade é só penacho de pena.
Do quero – quero, a vontade,se mostra mesmo é no grito.

A vida, velha carreta pesada de devaneios,
há de trazer-te algum dia.
Vivo ou morto, não importa,
vais encontrar teu cachorro esperando na porteira.
Perdoa se entretida na lida que me deixaste,
assim, de primeira feita,
eu nem te ponha reparo. 
É que embaixo do vestido,
no coração que levaste,
eu te carrego bem vivo, igual
não tivesses ido.


Ana Mariano





Imagem:browndresswithwhitedots

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