quinta-feira, 2 de abril de 2015

QUINTA DE POESIA





DÁ A SURPRESA DE SER

Dá a surpresa de ser.
É alta, de um louro escuro,
Faz bem só pensar em ver
Seu corpo meio maduro.

Seus seios altos parecem
(Se ela estivesse deitada)
Dois montinhos que amanhecem
Sem ter que haver madrugada.

E a mão de seu braço branco
Assenta em palmo espalhado
Sobre a saliência do flanco
Do seu relevo tapado.

Apetece como um barco.
Tem qualquer coisa de gomo.
Meu Deus, quando é que eu embarco?
Ó fome, quando é que eu como?



FERNANDO PESSOA


Imagem: Browndresswithwhitedots

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