À BELEZA
Não
tens corpo, nem pátria, nem família,
Não
te curvas ao jugo dos tiranos.
Não
tens preço na terra dos humanos,
Nem
o tempo te rói.
És
a essência dos anos,
O
que vem e o que foi.
És
a carne dos deuses,
O
sorriso das pedras,
E
a candura do instinto.
És
aquele alimento
De
quem, farto de pão, anda faminto.
És
a graça da vida em toda a parte,
Ou
em arte,
Ou
em simples verdade.
És
o cravo vermelho,
Ou
a moça no espelho,
Que
depois de te ver se persuade.
És
um verso perfeito
Que
traz consigo a força do que diz.
És
o jeito
Que
tem, antes de mestre, o aprendiz.
És
a beleza, enfim. És o teu nome.
Um
milagre, uma luz, uma harmonia,
Uma
linha sem traço...
Mas
sem corpo, sem pátria e sem família,
Tudo
repousa em paz no teu regaço.
Miguel Torga
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