quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

QUINTA DE POESIA






DESPEDIDA

Quando cheguei já dormias.
Um sono solto, esquecido,
quem sabe até conformado.
Peguei tua mão com cuidado.
Estava morna,
macia,
talvez um pouco vazia.
Uma tarde de verão.
Tarde como as que embalavam nossas redes de algodão.
O barulho das cigarras,
a limonada gelada,
a água fria do arroio
no banho do entardecer.
Lembras dos lambaris?
Brincavam com nossas pernas,
rápidos riscos dourados que não podias prender.
E rias teu riso jovem.
Lembras do namorado?
Quartas, domingos sem falta,
beijando lá no sofá.
E do outro, que depois veio, sem se fazer convidar?
O que mandou tantas rosas
que tínhamos de esconder.
A tua mão deixo ir, mas as lembranças não largo.
Ficam comigo, não importa.
São meu consolo,
meu colo, o meu verão infinito.

Ana Mariano
 “Olhos de Cadela”, L&PM 2006.



Imagem: Browndresswithwhitedots

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