quinta-feira, 30 de março de 2017

QUINTA DE POESIA






                                                 
                                    A poucos passos do poço,


garça esquiva pousada,
sem placa nem tabuleta,
nas dobras da desrazão,
filha mortal dessa terra, 
herdeira de Prometeu,
grita – o rei está nu!

O ar se crispa ao ouvi-la
e um vento sem paradeiro
quer devorar sua casa.

Que seja colo cortado,
muro, limite de rua,
abotoado silêncio
debaixo de um paletó.

E, no entanto, ela insiste
na mais pura insensatez.

O seu olhar clandestino,
de proa parindo estrelas
tem um rasgar, um clarão,
é sangue
correndo solto
no veio escuro dos mármores,
brasa, urtiga madura,
ardendo ainda, em silêncio.

Ana Mariano



                                     Imagem: Google modificada por mim

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