CORPO
Corpo serenamente
construído
Para uma vida que
depois se perde
Em fúria e em
desencontro vivido
Contra a pureza
inteira dos teus ombros.
Pudesse eu reter-te
no espelho
Ausente e mudo a todo
outro convívio
Reter o claro nó dos
teus joelhos
Que vão rasgando o
vidro dos espelhos.
Pudesse eu reter-te
nessas tardes
Que desenhavam a
linha dos teus flancos
Rodeados pelo ar
agradecido.
Corpo brilhante de
nudez intensa
Por sucessivas ondas
construído
Em colunas assente
como um templo.
Sophia de Mello Breyner Andressen
Mar Novo
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