quinta-feira, 29 de outubro de 2015

QUINTA DE POESIA





Helena

A vida que atravessava
o seu peito tão escasso,
de segunda a sexta-feira,
(sopa rala, prato raso)
passava sem perceber.
Mas era ainda domingo
e o seu homem, aos domingos,
montava nela apressado
esparramando o cinzeiro
e a raiva surda, salário.
Helena não reclamava.
Amor talvez fosse isso,
a casa limpa, arrumada,
os restos de uma esperança .
e os filhos dormindo ao lado
Um dia, talvez, quem sabe,
se o calor não fosse tanto
cinza, cimento pesado,
o mesmo  homem de sempre  
com boca nua beijasse
e Helena
(corpo pequeno)
e Helena
(peito apertado)
no lençol de todo dia,
estampadinho passado,
seria uma outra Helena,
por uma vez demasiada

Ana Mariano


Imagem via: Browndresswithwhitedots

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