quinta-feira, 6 de julho de 2017

QUINTA DE POESIA









O HÓSPEDE

Vai pôr a mesa, mandavam.  

Eu estranhava o verbo
enquanto, em silêncio de altar,
os panos tocavam-me os dedos
e os talheres me desmanchavam o gesto.

Todo o meio-dia
o milagre se repetia:
a toalha, naquele instante,
a si mesma  se bordava
e um lavrar de terra
sobre a madeira se anunciava.

Na casa encantada,
mais que a refeição,
um tempo sagrado
se hospedava entre mãos e pão.

Sobre a mesa
uma outra mesa nascia.


MIA COUTO



Nenhum comentário: