Lavados
Sobre a corrente do arroio,
arregaçavam as saias.
Deixavam entrever o cerne
da rosa rubra, carnosa,
escura rosa de carne
que lambaris beliscavam.
Com mãos de chumbo batiam
na pedra branca segredos,
de muito, ensaboados.
Lençóis, cortinas, babados.
O sangue da sinhá virgem,
o suor de quem lavou
o sêmen do seu sinhô,
na mesma água, encadeados,
corrente abaixo rolavam.
E, se alguém perguntasse,
a luz cinzenta dos gansos
diria, em voz de mil banzos,
que nos lavados do amor
não tem sinhá nem sinhô.
Ana Mariano
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