quinta-feira, 30 de junho de 2016

QUINTA DE POESIA






Armazém de campanha

À sombra piedosa do arvoredo,
lado esquerdo de quem vinha da cidade,
ficava o armazém.
Paredes largas refrescadas, promessa de poço e  parreira.
Amarelas, iguais ao cachorro que as guardava, entediado.
Nas prateleiras, oferecendo-se ao olhar, ao tato:
alpargatas, arame, banha,  ferramentas e o vaso
com três palmas de São Jorge.
A granel: o feijão, o milho, a erva perfumosa.

Jornal não havia, nem leite.

Sobre o balcão, o pão de última hora
e a rapadura envolta em palha.
Pausada e grave,
como desfiando um rosário,
minha mãe repassava a lista.

O pai fumava no pátio de terra varrida
dura como saudade e mais vermelha.

Ana Mariano
Olhos de Cadela
L&PM 2006.

                                                                                     


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