Armazém de campanha
À sombra piedosa do arvoredo,
lado esquerdo de quem vinha da cidade,
ficava o armazém.
Paredes largas refrescadas, promessa de poço e parreira.
Amarelas, iguais ao cachorro que as guardava, entediado.
Nas prateleiras, oferecendo-se ao olhar, ao tato:
alpargatas, arame, banha,
ferramentas e o vaso
com três palmas de São Jorge.
A granel: o feijão, o milho, a erva perfumosa.
Jornal não havia, nem leite.
Sobre o balcão, o pão de última hora
e a rapadura envolta em palha.
Pausada e grave,
como desfiando um rosário,
minha mãe repassava a lista.
O pai fumava no pátio de terra varrida
dura como saudade e mais vermelha.
Ana Mariano
Olhos de Cadela
L&PM 2006.
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