Inventário
Preciso
organizar as tuas coisas.
Feito
um deus, dar a cada uma o seu destino.
No
escritório, os papéis mais sérios, cartas arquivadas,
problemas
de família.
Os
livros do avô agrônomo, pedacinhos de campo encadernados.
No
quarto, a cadeira predileta e o banquinho.
Tuas
roupas de inverno, os vestidos de verão,
alegres,
estampados, quase fúteis.
Cartões
de meu pai dentro da bíblia.
Uma
rosa seca, testemunha ocular do esquecido.
O
vidro de perfume ainda fechado é teu. Não posso usá-lo.
No
silêncio dessas coisas que nos falam,
escuto
Borges:
Durarán
más allá de nuestro olvido;
No sabrán nunca que nos hemos
ido.
Ana Mariano
Olhos de Cadela
L&PM 2006.
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